Por dentro da obra: A rotina de um dia de concretagem

Já se perguntou como funcionam as etapas de concretagem em uma obra? Embora não seja uma dúvida comum e algo que a maioria das pessoas procuram saber, estudantes e profissionais de engenharia civil e arquitetura que estão iniciando no ramo se perguntam como funciona esse processo que é um dos mais importantes em uma obra. Pensando nisso, a MKS Empreendimentos preparou um artigo com o passo a passo de concretagem para quem tem dúvidas ou precisa de algumas dicas para executar o trabalho com mais qualidade.

São detalhes que só quem está na obra e faz na prática sabe. É algo que não está em manuais e nem no Google. É um conhecimento prático que vem muito da nossa experiência e de já termos enfrentado os problemas da obra. Confira!

O trabalho começa cedo

A preparação para a concretagem começa antes de colocar a mão na massa, literalmente. Os funcionários chegam em torno das 06:00 para um café reforçado para ter força pelo resto da manhã. Em torno das 07:00 o trabalho começa de fato. O primeiro passo é a colocação de cones em lugares estratégicos em torno da obra visando o fácil acesso do caminhão de bomba e de betoneira ao portão principal. Para isso, deve ser feito um pedido com antecedência junto à EPTC, ou empresa fiscalizadora de trânsito da sua cidade.  para bloquear a rua no dia da concretagem (ou durante a semana inteira) e evitar transtornos, como pessoas que estacionam no local que está isolado exclusivamente para a obra.

Caminhão betoneira despejando o concreto no caminhão bomba.

Tendo em vista um dia de concreto usinado, deve-se tomar cuidado com todos os detalhes para que os caminhões com concreto não atrasem no trânsito ou com outros tumultos, visto que o atraso pode gerar o vencimento, e por consequência, a perda do concreto.

A importância da logística

Após a saída da usina, o caminhão tem o limite de duas horas até o lançamento do concreto para que este não seque e seja perdido. Por isso é importante o planejamento desta logística para que as chegadas e saídas ocorram de forma rápida e sem transtornos para que tudo ocorra conforme o planejado. Logo deve-se considerar uma análise de tudo o que pode acarretar no atrasado da concretagem, planejando tudo com antecedência.

O atraso de um serviço como a concretagem, que muitas vezes devido ao volume total de serviço deve ser feito de forma contínua, sem possibilidade de parada, pode gerar transtornos como: necessidade de interromper o serviço sem o correto planejamento estrutural para isso (sem prever juntas de concretagem); necessidade de realizar o serviço já sem iluminação natural; extrapolar o horário limite imposto para poluição sonora.

Serviços a serem inspecionados com antecedência à concretagem:         

  • Dimensionamento da equipe: assim como os funcionários a menos que atrasam e diminuem a produção do serviço, funcionários a mais podem atrapalhar o serviço.
  • Limpeza das fôrmas: é necessário ter cuidado com vestígios de sujeira em fundos de vigas e pilares (como madeira, tijolo, serragem, embalagens etc) que podem gerar defeitos de concretagem e perda da seção do elemento comprometendo seu desempenho. Por isso, no caso dos pilares, é necessário fazer uma janela de inspeção junto à sua base.
  • Conferência das armaduras: armaduras invertidas, mal espaçadas ou de diferentes diâmetros da que estava no projeto estrutural podem ocasionar futuros transtornos, principalmente no que se refere a trincas e fissuras, devido à falta de capacidade de movimentação da estrutura, que é exatamente a função da armadura do sistema do “concreto armado”.
  • Conferência das esperas de passagens das instalações elétricas e hidráulicas: esperas mal colocadas ou esquecidas podem gerar necessidade de contratar posteriormente um serviço especial de corte em concreto, gerando custos desnecessários.
  • Conferir itens de segurança: estar prevenido contra acidentes em uma obra é fundamental. Ainda mais quando o serviço é realizado em grandes alturas e sem nenhuma estrutura fixa no entorno.
  • Conferir equipamentos elétricos: nível à laser e vibradores de imersão são protagonistas na concretagem e sua correta utilização está diretamente relacionada à qualidade do serviço. Inclusive é necessário ter um vibrador reserva, visto que a falta deste por alguns minutos pode acarretar na perda de um caminhão inteiro de concreto.
  • Conferir instalação da coluna de subida do concreto: é a tubulação que leva o concreto do caminhão-betoneira ao mangote (mangueira que despeja o concreto na laje) de bombeado. Logo é necessário verificar se estes estão firmes e bem localizados.
  • Conferir espaçadores: existem espaçadores de diversos tipos (lajes, vigas e pilar). Logo é necessário verificar se estão colocados de forma correta e se estão em bom número.
  • Conferir escoramentos e travamentos: uma forma mal travada ou escorada pode não só ocasionar um problema pontual na estrutura, como fazer a estrutura toda entrar em colapso num efeito dominó de desmoronamento das fôrmas.
  • Conferir a geometria final das fôrmas: nivelamento, esquadros, prumos, medidas etc.

Definir estratégia de lançamento do concreto

Após verificado se tudo está conforme o planejado, o próximo passo é definir por onde começa e por onde termina o lançamento de concreto: posição da coluna de subida em relação ao comprimento total necessário do mangote (mangueira que despeja o concreto na laje).

A concretagem deve ir avançando conforme o comprimento do mangote for diminuindo, já que ele conta com conexões que podem aumentar ou diminuir o seu comprimento, e não o contrário. Quando a concretagem acaba em um ponto que necessite o mangote com muito comprimento, o seu movimento sobre a laje pode atrapalhar o serviço que está sendo em paralelo em locais onde o concreto já está despejado, que é exatamente o regulamento e nivelamento da superfície concretada (o mangote pode encostar no concreto fresco e estragar todo o nivelamento). Contudo, em casos de bomba com lança, não há essa preocupação, já que o concreto é despejado de cima e de forma mecânica.

No dia da obra    

É muito importante conferir todos os dados da nota na hora do recebimento, que acaba sendo um comprovante do concreto entregue, tanto para controle próprio como também para controle junto à fornecedora. Deve-se prestar atenção se o horário de saída está condizente para não haver problemas de validade por algum motivo que não seja responsabilidade da construtora, como atraso da própria concreteira no trajeto da usina à obra, se o fck entregue é o mesmo determinado no projeto e se o Slump deu conforme o teste (ensaio de tronco de cone) realizado na obra.

Antes de fazer o primeiro bombeamento do dia deve-se fazer uma mistura bem fluída de cimento e água (chamado de “nata”) afim de lubrificar as paredes da tubulação de subida por onde passará o concreto. Essa nata é despejada no caminhão bomba e deve percorrer por toda a tubulação. Em casos de desmolde, é preciso colocar o molde antes da concretagem, finalizando o serviço cerca de uma hora de antecedência. Por isso, é aconselhável fazer no dia para que não haja aderência de poeira devido ao uso do desmolde, já que ele pode provocar falhas na superfície da peça concretada.

Conferir o Slump: Neste ensaio colocamos uma massa de concreto dentro de uma forma metálica tronco-cônica, em três camadas igualmente adensadas, cada uma com 25 golpes. Retiramos o molde lentamente, levantando-o verticalmente e medimos a diferença entre a altura do molde e a altura da massa de concreto depois de assentada (figura abaixo). Essa medida é o Slump, e deve ser igual ao que está na nota e especificado em projeto.

Durante o lançamento, é necessário ficar atento à possíveis deslocamentos das armaduras ou fuga por entre as fôrmas. É recomendável ter sempre um profissional exclusivamente para verificar esses detalhes e já ir arrumando-os, sem deixar parar a produção.

Programação do complemento: Mesmo já atendendo o volume total de concreto (teórico de projeto) para o pavimento (este volume de projeto é o que deve ser passado à concreteira quando for o momento do agendamento do serviço), normalmente se tem alguma variação para mais (excesso) ou pra menos (falta), gerando uma necessidade de complemento, muitas vezes, ou até mesmo um bota-fora útil na obra.

O complemento mínimo junto à concreteira é de 2m³. Caso o volume a ser concretado, calculado no local, seja maior que o mínimo, não há problemas. Agora, caso esse volume seja muito baixo, inferior a esse complemento mínimo, deve-se prever um local (bota-fora) útil como “espera” para receber esse excedente (o caminhão betoneira deve voltar vazio à concreteira, tendo que despejar todo seu concreto, por consequência, na obra). Normalmente é um local que não precise (não é prioridade) ser concretado naquele momento (concretagem da estrutura), mas que já é preparado (formas e travamento) para receber concreto a qualquer momento. Assim, nada se perde, e qualquer possível excesso de concreto é utilizado de forma eficiente e planejada.

Cura: Cura é o processo técnico utilizado para, dentre outros, desacelerar a evaporação (pela ação do sol e dos ventos) da água de amassamento utilizada na fabricação do concreto, e permitir assim a completa hidratação do cimento. A falta da cura ou a incompleta realização dela pode provocar fissuras e deixar a camada superficial fraca, porosa e permeável, vulnerável à entrada de substâncias agressivas provenientes do meio-ambiente.

Cura úmida: Algumas construtoras optam por fazer a cura úmida. O processo é iniciado somente quando for possível caminhar sobre o concreto e antes da evaporação da água de exsudação. O processo realizado em lajes é o represamento de uma lâmina d’água por volta de 1cm (conferir diariamente essa espessura) num período de 3 a 7 dias, dependendo do concreto e das condições climáticas. Nós da construtora MKS, por exemplo, optamos fazer as concretagens nas sextas-feiras para que a cura não afete nossa programação de trabalho.

No caso de chuva

Uma dúvida muito comum sobre o processo de concretagem é em relação a possibilidade de chover no dia, e o que deve ser feito caso isso aconteça. Deve-se sempre verificar e ir acompanhando a previsão com antecedência, afim de evitar transtornos causados por fortes chuvas. No caso de chuvas leves e moderadas a concretagem pode ocorrer de forma tranquila, sendo inclusive uma facilitadora do processo de cura e manutenção das propriedades do concreto.

No entanto, no caso de chuvas de forte intensidade e volume, deve-se evitar realizar o serviço, devido à possibilidade de água adicionada fora da especificação, o que altera as propriedades do concreto em relação ao especificado em projeto, e diminui sua resistência. Outros problemas ocasionados por chuvas muito intensas se referem à perda de produtividade, atrasando e dificultando o serviço!

Caso comece a chover durante a concretagem e seja impossível interrompê-la, uma dica é proteger com lona toda superfície concretada ao final do serviço para garantir a integridade do concreto.

Enfim, como pôde ser visto, mais importantes do que a própria concretagem em si, são as atividades que a antecedem! Sendo essas bem feitas, a concretagem transcorrerá de forma tranquila e contínua!

Lembre-se: engenheiro não é bombeiro e, portanto, não deve “apagar incêndios” durante os serviços. Por isso planeje-se e antecipe problemas.

A recompensa? A semana de concretagem na MKS sempre acaba com um churrasco típico de obra! Feito na churrasqueira de tonel e no espeto de vergalhão!

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